Com o aproximar das duas décadas de existência, vejo-me na necessidade de fazer um balanço desta minha vida.
Sempre fui uma pessoa calma. Trocava de bom grado as correrias e os arranhões nos joelhos por um livro e uma cadeira de baloiço. Nunca fui dada a grandes amizades, de duração infinita, prendendo-me na maioria das vezes a ‘paixões amigáveis’. Recordo-me, ainda hoje, de algumas amigas que vieram e foram. As feições já estão um bocado turvas mas ainda me lembro das discussões, dos namoricos, dos diz-que-disse. Foi a Ana Lúcia, a Cátia, a Vanessa. Umas tantas. As mãos cheias, talvez. Olhando para trás, consigo-me aperceber que, realmente, fui desabrochando com o tempo. Com as vivências, com pessoas, com o ‘bater com a cabeça’. De tímida e reservada, passei a faladora e extrovertida. De me sentir inferior passei a sentir-me igual a toda a gente. Os preconceitos e os complexos fui perdendo. Aprendi a aceitar a opinião, os outros, as culturas. Aprendi a gostar e a querer conhecer. A escrita acompanhou-me em todo o processo de amadurecimento [e ainda falta tanto para crescer.]. Foi, sem dúvida, a única estabilidade que conheci. Dos amigos de infância, guardo uma. A Sónia. Sempre tão diferentes mas com um coração tão igual. Dos amigos do liceu poucos foram os que ficaram. Uns porque as circunstâncias da vida assim o quiseram. Outros porque do amadurecer faz parte admitir que os outros podem errar mas, mais importante, é reconhecer que também erramos. E o essencial é aprender com aquilo que fizemos menos bem. Ou mesmo mal. Da amiga inseparável do liceu [e de ‘sempre’] e do afastamento, nasceram novas amizades. Das fraquezas fazem-se forças e da necessidade de companheirismo e amizade conhecem-se novas pessoas, novos mundos, novos ‘eus’. Da Jaque as noitadas. Da Diana a paz da alma. Da Bruna e da Dani o prazer de ver o Bem e de fazer o Bem. Da Aninha a força e a amizade. Da Daniela a amizade. Da Madeira o abraço. Do BD as perspectivas. De todos os outros, a alegria.
Encontrei o romance. E perdi-o. E voltei a encontrá-lo. E espero não voltar a fazer nada para o perder. Porque o amor nasce em estado bruto. Não é preciso moldá-lo, é preciso nos moldarmos a ele. E dele retiro os melhores conselhos, retiro a sabedoria para me tornar cada vez melhor. Eduardo, és a minha essência.
Com os vinte anos perto preciso de fazer uma escolha. E a minha escolha é de ser melhor. O melhor que conseguir ser porque já desperdicei muito tempo a ser igual a tantos outros.