«O cheiro a terra molhada traz saudades».
Lembro-me quando era pequenina e tinha um medo enorme de ir para o Colégio... Acordava já a chorar baixinho, toda encolhida com esperança que se esquecessem de mim e me deixassem assim, feita bixinho, debaixo do mar de lençóis e da imensidão de bonecos que espalhava pela cama para me protegerem. Ficava a rezar baixinho «... por favor, Faz com que feche os olhos e quando os abrir seja de noite de novo... por favor, eu prometo que não chateio mais o mano e que como a sopa toda à noite!...» mas acordavam-me sempre.
Ia a viagem toda a chorar agarrada à mão do meu pai enquanto ele me contava mentiras infantis de que o dia passava num instante, que eu ia encontrar os meus amigos todos, que ia comer pão com doce de morango, que a Leninha estava à minha espera para me vestir o bibe (que estava religiosamente guardado no cabide com a Joaninha), que eu me ia divertir e que não tardava estava em casa da minha avó. E eu seguia a mão dele, enquanto ele punha as mudanças e as lágrimas formavam uma mancha enorme na minha camisola de lã.
Chegados ao Colégio o meu pai arrancava-me do banco do carro... Eu esperneava, gritava, cerrava os punhos e mordia o ombro do meu pai... Lembro-me do seu casaco castanho claro, já manchado de lágrimas de outros dias, onde eu me segurava com força. Mas nada era suficiente...
E assim, chegava ao Colégio onde, entre lágrimas, cheirava o doce cheiro de terra molhada.
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