Um dia vou escrever a minha alma num livro. Palavra a palavra vou desenrolar-me, vou-me descobrir, vou renascer. Vou ser o livro. Vou ter aquele cheiro característico, a suavidade das folhas, a lombada com letras apelativas. Talvez com uma fotografia minha na capa. Ou atrás. Mas a preto e branco. Para ressaltar a vivacidade do olhar. Com uma pequena biografia naquele desdobrável para marcar as páginas. Nascida em Coimbra. Licenciada em tal. O curso que 'ninguém conhece' ou o curso do 'não, não vou ser professora. nem educadora de infância.'. Não interessa. No dia em que (me) cheirar, que (me) tocar, que (me) vir numa livraria qualquer vou-me sentir [finalmente] profundamente realizada. E se calhar vou ter uma alma nova. (Re)Nascida. E vou poder continuar a escrever livros para o resto da vida. Numa secretária grande. Com uma boa cadeira. Numa sala pejada de livros. Com os cães a aquecer-me os pés (e a alma! (re)nascida?). E o chá a aquecer-me as mãos. E contigo a confortar-me. Tu vais ler o meu livro. E vais (me) amar. Eu sei que vais.