a tua voz que eu amo, e as tuas palavras
que eu não esqueço. Volta até mim
para que a tua ausência não embacie
o vidro da memória, nem o transforme
no espelho baço dos meus olhos.’
Nuno Júdice
Há um dia em que a alma nos rebenta nas mãos.
Mas gostava que soubesses que já gosto muito de ti, embora ainda não tenha tido tempo de saber o que é isso de gostar muito de ti. Não faz mal, logo se vê. Não, o que me assusta mesmo muito, quase terror por vezes, é depois não poder voltar atrás, tão simplesmente como quem põe uma fita de cinema a rebobinar. Quero dizer, depois de começar a gostar de ti como gosto, já não consigo desfazer isso que se fez, sei lá o quê, o que tu quiseres, isso tudo, o que nos traz juntos até aqui, se tu quiseres.
(...)
É tão bom sentir o que sinto. Que alguém, e és tu, me quer com o maior cuidado para não se enganar, iludir, mentir a si próprio que não me está a confundir, sem querer, com o que desejava ver, sempre esperou alcançar, sonhou quando era criança num sonho que ficou, quer mostrar aos outros, ao pai em especial, a quem quer que seja, pouco importa. Não, do que tu gostas mais em mim é dos meus pecados, dos meus defeitos físicos, de tudo o que não consigo ser, onde falhei, onde não pára nunca de doer, é isso o que tu queres ver, o que queres ter perto de ti, queres aceitar e cuidar, só isso, e o resto, só se vier com isso, porque é isso que tu amas em mim. Será isso? Será assim? Será possível pela primeira vez? Pode ser, talvez seja disso feito o nosso amor. Pelo menos grande parte, meu querido.'
'Muito, meu amor',
Pedro Paixão
"Love is obsession, passion, someone you can't live without. If you don't start with that, what are you going to end up with? Fall head over heels. I say find someone you can love like crazy and who'll love you the same way back. And how do you find him? Forget your head and listen to your heart. I'm not hearing any heart. Run the risk, if you get hurt, you'll come back. Because, the truth is there is no sense living your life without this. To make the journey and not fall deeply in love - well, you haven't lived a life at all. You have to try. Because if you haven't tried, you haven't lived."
in Meet Joe Black
'Algum dia eu haveria de entrar na normalidade dos que te amam. Amo-te. E dói escrevê-lo (que é pior, meu amor, do que dizê-lo). Amo-te, absoluta, impossível e fatalmente. E ouço, adolescente, uma música adolescente, para me lembrar de ti, porque lembrar-me de ti é lembrar-me que não consigo esquecer-te. E ouço música porque ouvimos música quando amamos, e tudo, no amor, é música, acústica da alma que se quer ser devorada, e, neste caso, dor (tão deliciosamente insuportável) de amar sem sequência nem expectativa de contrapartida, amar unicamente o puro objecto que desgraçadamente amamos.
(...) E depois, afastamo-nos. Beijo-te a correr, não sei se já reparaste, e quase fujo, porque sair do pé de ti é regressar ao que não és tu, o teu olhar e as tuas mãos, a tua alma e a tua voz, e isso, meu amor, transformou-se no insuportável intervalo entre dois encontros.
Eu penso em ti, ainda mais do que te digo, e tu estás em tudo, mesmo quando não te penso, tu és a grande razão, o horizonte sem nome que constantemente se desenha na minha imaginação de mim.'
'Amor',
António Mega Ferreira