10 de abril de 2004

«É preciso amar devagar.» - Alexandre Honrado

«É preciso amar devagar
como a poeira assenta nos caminhos
e a brancura dos dentes desce na superfície macia do pão.
É preciso amar quando se ama
e quando o amor devolve o amor que lhe damos
na medida da paixão.
É preciso amar devagar
porque também o céu não corre e a lua não se apressa
e o mar, mesmo revolto, volta a serenar.
É preciso amar devagar
para evitar a dor da ignorância e do repúdio
devagar como a vela arde e solidifica
como um ventre que gera um ente querido
como uma criança que se espanta
por já saber sorrir.
É preciso amar devagar
como o ar no rosto ao cair da tarde
ou a brisa da manhã.
É preciso amar devagar
e falo de uma montanha que surgiu do chão
falo de um grão que amanheceu
falo de ti se me quiseres em ti
como eu te quero.
É preciso amar devagar
para ficar, para ficar, para ficar...»

« ... os olhos muito mornos, muito grandes, de uma profundidade de sorte oculta, tristes olhos, tristes sonhos, triste sorte... »

« - É preciso amar devagar!
- Não entendo!
- O amor não quer pressas nem sobressaltos. Nem que aconteça antes de ter mesmo de acontecer.
- Não entendo!
- O amor é como a certeza da Lua no céu, mesmo que não se veja fica connosco se fôr verdadeiro e volta se tiver de voltar, porque nunca chegou a partir.»

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